Animal Farm é um projecto de cinco anos do fotógrafo taiwanês Chou Ching-hui. Chou usa os jardins zoológicos como a sua fonte de inspiração criativa e como locais de filmagem para apresentar a vida sumptuosa e confusa da sociedade contemporânea. Os jardins zoológicos são espaços cheios de imaginação e de conflito. Apresentam as maravilhas da vida moderna através de uma colecção de animais raros de todo o mundo, fazendo alusão à salvação apocalíptica da Arca de Noé, ao proteger as espécies ameaçadas de extinção.
Chou usa a “jaula” do jardim zoológico como uma metáfora para a “jaula” da vida moderna. A maioria das suas obras são captadas em película a cores, no formato 8x10. Ao combinar uma cena e uma atmosfera surrealista, o artista conduz o público a analisar atentamente todos os elementos e detalhes nas imagens, à procura de pistas que ajudem a interpretar estas imagens misteriosas e a criar uma conexão com as suas experiências pessoais.
Esta exposição apresenta três temas que fazem alusão às gaiolas invisíveis da vida moderna: Consciência do Comportamento Colectivo; Consciência da Sobrevivência e Consciência do Corpo.
Cada tema é apresentado através de nove fotografias de grande escala captadas em jardins zoológicos [Animal Farm No. 1 a 9], nove vídeos gravados em estúdio e num aterro, retratos e instalações.
A "consciência" é a força motriz invisível do comportamento do ser humano, ao mesmo tempo que é uma estrutura de pensamento que limita o próprio comportamento. O absurdo e o distanciamento são enfatizados quando o artista situa os humanos entre as demais espécies de animais. A casa assemelha-se a uma jaula. Enquanto a fronteira entre o espaço interior construído pelo homem e o espaço exterior, selvagem, se torna indefinido, uma série de imagens misteriosas, mas visualmente opulentas, expõem as restrições da condição humana na actualidade.
A obra Animal Farm No. 2 retrata a dimensão mecânica e repetitiva do quotidiano actual, em que o consumo e a vida doméstica podem significar abundância e paz mas também um confinamento inescapável.
Animal Farm No.5 é uma ironia subtil que denuncia a forma como a arte contemporânea abdica do seu poder crítico para seguir os interesses do mercado.
Já Animal Farm No.8 discute a dependência excessiva face às tecnologias de comunicação para formar relações sociais, a solidão e o vazio subjacentes.
Este núcleo aborda o envelhecimento [Animal Farm No.3], os desafios reprodutivos e e a pressão social em torno dos papéis atribuídos a homens e mulheres [Animal Farm No. 4] e a dificuldade de viver com a doença mental [Animal Farm No. 6].
Da arte clássica ocidental à cultura dos influenciadores digitais, Animal Farm No. 1 constrói uma crítica à perpetuação de ideais de beleza perseguidos a qualquer custo e às indústrias que mercantilizam o corpo.
Numa abordagem surrealista, Animal Farm No.7 incorpora um espaço feminino privado no zoológico, criando “uma gaiola dentro de outra”. No centro da imagem, uma mulher surge cercada de roupas e sapatos, aprisionada por um estereótipo de feminino a que ela própria se submete.
A partir de um festivo cenário de casamento, Animal Farm No.9 discute os conflitos inerentes às questões de género e do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Chou Ching-hui (1965-) é um dos fotógrafos contemporâneos mais representativos de Taiwan. Após a sua formação, dedicou-se ao fotojornalismo durante mais de dez anos, experiência que nutriu a sua criação fotográfica. Os seus três primeiros projectos - Out of the Shadows, Vanishing Leagues: Images of Workers and Wild Aspirations: The Yellow Sheep River Project – consistiam em registos documentais de realidades sociais, apresentadas de forma artística.
Animal Farm foi o primeiro projecto em que transitou da “fotografia documental” para “fotografia conceptual”. Através de imagens delicadamente requintadas, com cores vibrantes, o artista produziu uma espécie de atmosfera hiper-real para criar a sua própria linguagem fotográfica.
Chou aplica uma abordagem artística para interpretar histórias verdadeiras através de representações teatrais, de forma a apresentar a sua observação e reflexão pessoal sobre o desenvolvimento da sociedade moderna.
Nos últimos anos, as obras de Chou têm recebido uma grande atenção internacional, tendo sido expostas em países como Hong Kong, Japão, Singapura, China, Itália, Israel, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Canadá e Rússia. Internacionalmente, as suas exposições individuais mais recentes incluem The Yellow Sheep River Project no Istituto degli Innocenti, Itália; Theatre of Reality em DECK, Singapura; Animal Farm na Galeria Chelouche, Israel, e agora no Museu do Oriente, Portugal.
Chou é como um contador de histórias que reproduz narrativas com a sua objectiva e espera que as suas fotografias exaltem sentimentos profundos em quem as vê. Actualmente, vive e trabalha em Taipei.