Doada à Fundação Oriente pelo Esther Trindade Trust em 2004, a Colecção Trindade inclui obras do conceituado pintor goês António Xavier Trindade (1870-1935) e da sua filha Ângela Trindade (1909-1980), também ela uma consagrada artista.
Os legados de António Xavier e Ângela Trindade abrangem mais de um século de intensas transformações políticas e sociais no subcontinente indiano e, em grande medida, re-presentam as diversas influências e tendências artísticas presentes nas artes indianas do século XX.
Desde 2012, a obra de António Xavier Trindade tem estado exibida em permanência na delegação da Fundação Oriente na Índia, constituindo um dos pontos centrais da dinâ-mica vida cultural de Goa.
Obras Seleccionadas da Colecção Trindade
A presente exposição apresenta uma nova narrativa desta colecção e acrescenta um número considerável de peças recentemente restauradas e nunca antes expostas. Pela primeira vez, a obra de Ângela Trindade é também exibida permanentemente, permi-tindo ao público compreender a intercambio criativo entre os dois artistas, relação esta que transcendeu largamente os seus laços familiares.
Esta exposição está dividida em quatro secções principais. A secção inicial compreende os primeiros trabalhos de António Xavier Trindade, como Auto-retrato a Verde (1912) e cenas domésticas como a Família à Luz do Candeeiro (1916) mas também cenas e retratos familiares com Dulce Farniente (1920), retrato de Florentina Noronha a mu-lher do artista ou Esther Reclinada (n.d.), retrato de uma de suas filhas enquanto ado-lescente. Esta primeira selecção de obras inclui também representações de personagens próximas do artista, como é o caso do Senhor Amor (1919), inspector do ensino portu-guês afecto a Goa na época, uma amiga da família Menina Ferns (1925), a sufragista britânica Annie Besant (1927) e o Cozinheiro João (1930). Em conjunto, estas obras revelam o profundo entendimento do perfil psicológico dos seus modelos, mas também a fluência do artista com a técnica do claro-escuro.
A segunda secção inclui representações de pessoas comuns como em Irmãs Arménias (1932), personagens tradicionais em Abandonada (n.d.) mas também cenas que retra-tam a vida quotidiana e rituais da Índia como Sanyasi (n.d.) ou Preparativos para Puja (1923). A profundidade da percepção e domínio na composição de Trindade são cons-tantes nos seus óleos, valendo ao artista o epíteto de “Rembrandt do Oriente”, ainda que a eloquência de sua paleta e técnica claro-escuro sejam talvez mais reminiscentes dos mestres espanhóis Velásquez ou Goya.
A terceira secção desta exposição adiciona uma interessante dimensão ao trabalho do pintor pelo seu significado documental e distintas abordagens artísticas. Trabalhos co-mo Cena no Nasik com Banhistas (1932) e Cena no Nasik com Templo (1932) captu-ram a dinâmica e sensibilidades espirituais das diversas comunidades na Índia. Inclui também paisagens notáveis como os Barcos de Pesca Goeses (1930). O domínio das téc-nicas de aguarela e desenho estão também representadas no grupo de quatro obras que compõem Cena no Nasik (1931) e entre as peças recentemente restauradas, como é o caso de Mulher com Sari Cor-de-rosa (n.d.) ou Cabeça de um homem calvo (1914).
A última secção é dedicada à obra de Ângela Trindade, filha de António Xavier Trinda-de e sua descendente artística. Através desta selecção pode-se observar o crescimento de Ângela como artista. Os seus primeiros trabalhos foram imensamente influenciados pela estética de seu Pai e pela sua educação ocidental, como é evidente em Punjabi com Mandolin (1949) ou Cena de Aldeia (1948). Com o evoluir da sua obra, a artista optou por combinar a espiritualidade cristã com estilos tradicionais indianos, o que lhe trouxe reconhecimento nacional e internacional e é exemplo a aguarela Nossa Senhora da Conceição (1956). Mais tarde, com o amadurecimento de seu trabalho, Ângela estabele-ceu sua própria voz e estilo que veio a ser conhecido como Trindadismo, do qual é um excelente exemplar Shakuntala e o Veado (1960).